COMO
É QUE ME TORNEI PROSTITUTA
(Adaptado
de um facto real)
Raúl
M. Kuyeri, 19 de Março de 2019
O
país está a passar por vicissitudes adversas, mas o centro da
questão hoje são as dívidas ocultas que estão a encher mares de
páginas em jornais electrónicos e impressos, sejam eles nacionais
ou estrangeiros.
A
propósito trago aqui um texto cujo autor é desconhecido. Trago-o
por mera questão de o considerar uma sátira bem trabalhada. Uns
podem considerá-lo uma subversão, mas eu vejo nele simplesmente uma
obra de arte da escrita e como o artista dá vida real às palavras,
encaixando cada uma delas no contexto actual em que o país
atravessa.
O
texto começa por questionar: “Como é que me tornei prostituta?”
A
seguir vem a descrição da epopeia de como se tornou prostituta:
“Primeiro,
eu culpo o meu corpo. As
minhas
formosas curvas, o
meu
rosto lindo.
Acima
de tudo, a
minha
ingenuidade.
Assim,
tudo devo à
minha desgraça. Fui
violada.
Nas
babalazas do estupro que sofri, vieram anjos de olhos azuis que
falavam inglês. Encantei-me com a
expressão: Excuse
me.
Abri-me
toda.
Hospedei
desconhecidos na
minha casa e no
meu
corpo. De
bandeja,
deixei eles educarem os
meus
filhos. Foi aí que tornei-me puta.
Os
meus
filhos aprenderam a ter vergonha de mim. Perdi o meu trono de mãe.
Os meus filhos pervertidos, filmaram a minha nudez. Expuseram o
meu
valor ao mundo.
Daí
vieram vários anjos, em quantidades enormes. Pelos montes, pelos
rios, pelo mar… Todos queriam sentir o meu sabor.

Eu
era fonte de renda para os meus filhos. Eles
fechavam os negócios, enquanto eu gemia de prazer e dor. Os
meus
netos perdiam carinho por mim.
Mas
houve um ambicioso que quis me lobolar. Para que sozinho me
possuísse. Tinha olhos azuis e me dava presentes. Ele
usou
a ganância do meu próprio filho. Deu-lhe vinhos e dinheiros.
O
meu
filho perdeu-se na
embriaguez. Hipotecou
a mim e a minha casa. Apelidaram aqueles presentes de dívidas
ocultas. Dizem que o meu filho tem 2 biliões
de Dólares. Um maCHANGane
que chamei meu filho.
Lobolaram-me
em silêncio. Os
meus
netos vão pagar dinheiro que não comeram. E a mim, todos os
brancos
comeram-me…
Por
isso podem me chamar Moçambique!”
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