NÓS
CANTÁVAMOS
Ode a nostalgia
a Samora Machel
Por: Angelina Neves
(Texto adaptado por Raul M Kuyeri, 19 de
Outubro de 2018)
Hoje é mais um Dia Comemorativo em que recordamos a morte
em Mbuzine, África do Sul, do enigmático líder Samora Moisés Machel. Como
escreveu Angelina Neves, na tristeza e na alegria, “Nós cantávamos!”
Cantávamos antes e depois de qualquer coisa... antes das
aulas, depois das aulas, antes das reuniões, depois das reuniões, antes de um
trabalho, depois de um trabalho, nos intervalos... Cantávamos sempre! Cantávamos
na dor e na alegria em várias línguas, mesmo em línguas que nem sequer entendíamos!
Dizem que quem canta, os seus males se espantam e, com Samora Machel, espantámos muitos males... Tínhamos um objectivo: Construir um futuro alegre, onde cada um teria confiança no próximo, onde não existiria discriminações e onde, como irmãos, trabalharíamos de mãos dadas e a cantar!
Dizem que quem canta, os seus males se espantam e, com Samora Machel, espantámos muitos males... Tínhamos um objectivo: Construir um futuro alegre, onde cada um teria confiança no próximo, onde não existiria discriminações e onde, como irmãos, trabalharíamos de mãos dadas e a cantar!
Com Samora Machel, tínhamos um Presidente que gostava de
cantar aos quatro ventos! E, em cada canto, abríamos as nossas almas e espantávamos
todos os males da maldição!
Samora Machel não tinha complexos de cantar, mesmo
desafinado, porque o importante era poder cantar!
Angelina Neves lembra-se que, na visita que fizeram à
Bulgária, num jantar, o camarada Presidente, como lhe chamávamos antes das
etiquetas burocráticas decidirem que tínhamos de o chamar por “Sua Excelência”,
pelo menos quando estava em funções de Estado.
Angelina Neves recorda que Samora Machel já tinha bebido
uns copos a mais e desafiou o seu homólogo búlgaro a fazerem um concurso
para ver qual das duas delegações cantava melhor!
Havia um pequeno palco na sala onde decorria o jantar de gala
e a delegação moçambicana, toda surpreendida e envergonhada, teve de se dirigir
para lá. Na delegação não havia ninguém com coragem suficiente para
entoar uma cancão…
- Dá tu o tom...
- Eu, desafinado! Dá tu...
- Ninguém sabe cantar?, perguntou Samora.
- Acho que ninguém sabe, camarada Presidente...
- Então eu começo.
E Samora Machel juntou-se de imediato ao resto da sua delegação
no pequeno palco e deu o tom. Todos o acompanharam. Pareceu que estavam
fora de tom, mas, ainda que desafinados, cantaram e fizeram os búlgaros
cantarem também. É verdade que eles cantaram mais afinados, mas o que importou foi
que, no fim, todos se divertiram.
Cá para mim, com Samora Machel, tudo parecia fácil. A
revolução era quase uma brincadeira, onde o que necessitávamos era de um
coração a bater de amor por todos, num autêntico espírito de camaradagem.
Acompanhávamos Samora Machel mesmo quando cantava fora de tom, porque ele tinha
a paixão e a alegria dentro de si e era tão grande que transbordava para todos
nós! Porque ele acreditava no que fazia e no espirito e força do colectivo.
Ouve-se muitas vezes pessoas dizerem que foram enganadas
e que perderam dinheiro, bens, tempo e outras possibilidades com a nossa
Revolução Democrática Nacional…
Fico triste por ouvir isso de tais pessoas... Porque, para mim, o que viví e aprendí vale muito mais do que todo o dinheiro e tempo que ainda possa vir a ganhar! Aquele estado de espírito que Samora Machel mobilizava em cada um de nós não tem preço.
Fico triste por ouvir isso de tais pessoas... Porque, para mim, o que viví e aprendí vale muito mais do que todo o dinheiro e tempo que ainda possa vir a ganhar! Aquele estado de espírito que Samora Machel mobilizava em cada um de nós não tem preço.
É que vivemos um tempo que poucos seres humanos tiveram a
possibilidade de viver e pudessem orgulhar-se de terem testemunhado. A nossa geração
viu, com os próprios olhos e com o coração, um Povo erguer-se dos escombros com
o orgulho de existir e sem preconceitos… Todos agarrávamos em vassouras e limpávamos
o país inteiro!
Eu vi bandos de jovens felizes por serem úteis em tarefas
grandiosas como a de acabar com o analfabetismo ou fazerem campanhas de
vacinação! Eu vi todas as raças darem-se as mãos! Eu senti o meu coração bater
ao mesmo ritmo que o de toda uma Nação no objectivo de construirmos um mundo
novo e mais humano!
Não, não perdi nada comparado com tudo o que ganhei!
É verdade que, com as dificuldades dos dias de hoje, nos
lembramos de como algumas coisas poderiam fazer-nos jeito e ser-nos úteis hoje,
mas, se voltássemos atrás no tempo, eu me entregaria de novo e de novo, porque
só acreditando realmente que um sonho se tornar realidade é que a gente pode
estar nele de alma e corpo para apreender o valor da integridade e da alegria
de cantar!
E hoje já ninguém canta como nós cantávamos...
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