HISTÓRIA DOS NEGROS

Por: Raúl M Kuyeri, 19 de Julho de 2018

Negros” ou “povo negro” são termos usados em sistemas de classificação racial para os seres humanos com um fenótipo de pele escura em relação à tonalidade da pele de outros grupos de seres humanos. Daí que diferentes sociedades aplicam critérios diferentes a respeito de quem é classificado como “negro” e muitas vezes com variáveis sociais, tais como classe social e status sócio-económico, também desempenham um papel relevante nessa classificação que, quanto a mim, é absurda.

Pessoalmente não consigo ver raças com base na cor da pele de cada ser humano. Infelizmente a tonalidade da cor da pele se aplica erradamente para a definição de raças da espécie humana. Para mim só há uma única raça entre os seres humanos, que é a raça ou espécie humana: os humanídeos.

Como um fenótipo biológico, ser “negro” é frequentemente associado com as cores de pele muito escuras de algumas pessoas que são classificados como “negras”, como é o meu caso. Sou “negro” porque a “civilização” europeia assim me vê e me considera. Mas, nas verdade, eu não sou “negro” senão humano, como tantos outros seres humanos com mais, menos ou mesmo sem a melanina, um pigmento escuro que se encontra na pele, nos pelos e nos olhos, responsável pelo bronzeamento da pele quando exposta ao sol e que diferencia a tonalidade da cor da pele das pessoas. Daí que, apesar de os albinos serem da tonalidade da pele muito branca, eles não brancos, apenas lhes falta a melanina.

Algumas definições do termo “negro” incluem apenas as pessoas de ascendência subsaariana relativamente recente (ver: Diáspora africana). Entre os membros desse grupo, a pele escura é mais frequentemente acompanhada pela expressão da textura do cabelo afro-natural. Estudos científicos recentes indicam que a diversidade de cores da pele humana é muito maior em populações da África subsaariana que noutras regiões do mundo.

Outras definições do termo “negros” estendem-se a outras populações caracterizadas por pele escura, às vezes incluindo os povos indígenas de muitas regiões da Ásia e Oceania, os ameríndios ou povos indígenas das Américas.
A palavra “negro” apareceu no século X e designa uma pessoa de pele escura, mais particularmente originária da África subsariana, entre os povos que habitavam as margens do rio Níger, daí que em inglês se usa termo Nigger. Assim, a palavra “negro” passou a ser adoptada no século XV com sinónimo da escravização de africanos pelos europeus, em particular pelos portugueses. Os espanhóis, porém, foram os primeiros europeus a usar o termo “negros” como significando escravos na América. Por conseguinte, um dos primitivos sentidos da palavra negro era “escravo”. Por este motivo, a palavra é considerada ofensiva em diversos países africanos e na Diáspora, como no Senegal e nos Estados Unidos da América (EUA), onde é empregada a palavra black que literalmente corresponde à palavra preto, ao invés de nigger (negro).

Os portugueses foram o segundo povo europeu a traficar escravos “negros” para as Américas. Estes adoptam a palavra “negro” designando primeiro, na sua língua, todos os escravos. Por conseguinte, também passaram a chamar “negros” aos escravos índios, chamados de “negros da terra”. Pouco a pouco, os portugueses passam a designar os africanos cada vez mais apenas com a palavra “pretos”, enquanto os índios foram tratados de “selvagens” até 1970 na imprensa brasileira.

Do ponto de vista científico, a evolução de pele escura é intrinsecamente relacionada com a perda de pelos do corpo nos humanos. Há 1.2 milhões de anos, todas as pessoas tinham a mesma proteína receptora dos africanos de hoje, a sua pele era escura e o sol intenso reduzia a chance de sobrevivência das pessoas com pele mais clara, o que resultou na variação por mutação na proteína receptora. Isso aconteceu significativamente mais cedo do que a especiação do Homo Sapiens a partir do Homo Erectus, há cerca de 250 mil anos.
A tonalidade escura da cor pele, ou o mesmo que câncer de pele, é resultado da radiação da luz ultravioleta que provoca mutações na pele e é menos comum entre as pessoas com pele mais escura do que entre aqueles com pele clara. Além disso, a pele escura impede que uma essencial vitamina B ou ácido fólico seja destruído. Portanto, na ausência da medicina moderna e de uma dieta adequada, uma pessoa com pele escura nos trópicos viveria mais, seria mais saudável e mais propensa a se reproduzir do que uma pessoa com pele clara. Como exemplo, os australianos brancos têm algumas das maiores taxas de câncer de pele do mundo, como evidência dessa expectativa, por um lado.

Por outro lado, como a pele escura impede que a luz solar penetre na pele, ela dificulta a produção da vitamina D3, responsável pelo seu clareamento progressivo. Portanto, quando os seres humanos migraram para regiões do norte, onde a luz solar é menos intensa, os baixos níveis de vitamina D3 se tornaram um problema e as cores da pele mais claras começaram a aparecer. Pessoas brancas da Europa, que têm baixos níveis de melanina, naturalmente, têm uma pigmentação da pele quase incolor, especialmente quando não estão bronzeadas. Este baixo nível de pigmentação permite que os vasos sanguíneos se tornem visíveis, o que dá a característica de cor pálida e roseada das pessoas chamadas brancas. A perda da melanina em pessoas brancas é agora considerada como ter sido causada por uma mutação em apenas um gene dos 3.1 mil milhões de genes do DNA.

A textura do cabelo em pessoas de ascendência africana subsaariana é visivelmente diferente daqueles ascendentes de populações da Eurásia, como já foi observado por Heródoto, que descreveu os povos da Líbia ou os “etíopes ocidentais” como tendo cabelos-de-lã. A textura é mais densa do que nas suas contrapartes em linha recta. Devido a isso, é muitas vezes referida como “grosso”, “espesso” ou “crespo”. Por várias razões, incluindo possivelmente a sua secção transversal relativamente plana, entre outros factores, este tipo de cabelo transmite uma aparência seca ou fosca, sendo também muito áspero. Esse tipo de cabelo também é muito grosso e a sua forma original é muito propensa a quebra-se ao ser penteado ou escovado.

As características específicas da forma natural do cabelo afro são únicas entre todos os mamíferos. A textura provavelmente antecede a evolução da pele escura. Ela evoluiu, quando o pré-humano Australopitecíneo perdeu a maior parte do seu pelo, devido à transpiração e à necessidade de proteger a pele pálida recém-exposta do corpo. O traço deixado foi essencial para a sobrevivência no equador da evolução da pele escura sem pelos. No entanto, continuou a ser expressa vestigial entre a maioria dos melanésios e africanos subsaarianos.

Estes factores estão na base do histórico de preconceito contra os “negros” que é muito grande e decorre principalmente da sua condição de escravos, quando foram levados de África para a América, como o Brasil, os EUA e alguns países do Caribe. Durante o regime do Apartheid na África do Sul, os negros eram postos à margem, não podendo ser considerados cidadãos de pleno direito. Algo semelhante acontecia também nos EUA, onde ainda hoje a miscigenação não é oficialmente tomada em consideração. Embora os “negros” já sejam considerados cidadãos comuns nesses países, ainda hoje vivem em condições de vida relativamente menos favorecidas do que as outras pessoas em geral.

Segundo estudos realizados pelo sociólogo David Willians, do Instituto de Pesquisas Sociais da Universidade de Michigan, nos EUA, para cada dólar pago a um “branco”, um “negro” recebe o equivalente a 40% desse valor. De acordo com os Indicadores Sócio-económicas do Censo norte-americano sobre a década de 1990, 7% da população “branca” vivia na pobreza, contra 32.4% da população “negra”. Em escala menor, existe também discriminação de negros na Europa, devido à recente migração de africanos para países como a França e a Itália.
 

Nas últimas décadas, a população “negra” na Europa tem crescido consideravelmente, especialmente em países como a França, Países Baixos e o Reino Unido. Isso ocorre em função da migração de povos africanos e do Caribe colonizados por franceses, portugueses, neerlandeses e britânicos que, no geral, migram em busca de melhores condições de vida. Outros países como a Suécia, Espanha, Itália e Alemanha também têm recebido ondas migratórias de “negros”.

Todos os países da África Subsaariana têm população maioritariamente “negra”. Alguns países como a Namíbia e a África do Sul apresentam uma diversidade étnica maior, devido à colonização por europeus vindos principalmente da Alemanha, Reino Unido e Países Baixos. Na África do Sul, apesar de serem maioria étnica, tiveram vários direitos suprimidos pelos africânderes, sul-africanos de origem europeia, que dominavam politicamente por via do regime conhecido como Apartheid. Na região do Magrebe os negros são minoria, frente à maioria de origem semítica e berbere.

Na América, particularmente nos EUA, a classificação racial também se refere a pessoas com todos os tipos possíveis de pigmentação da pele, da mais escura até a mais parda, incluindo albinos, desde que tenham ascendência africana e exibam traços culturais associados como sendo de “afro-americanos”. Daí que, nos EUA, se não é “branco” e “negro”. Portanto, o termo “negros” não é um indicador da cor da pele, mas de classificação racial de ordem antropológicas e sócio-cultural.

Existe nos EUA uma significativa população “negra”. O censo norte-americano considera-se como “blacks” ou “ibero-americanos”, o que equivaleria a “negro”, no contexto brasileiro e europeus para caracterizar indivíduos com alto percentual genético de ascendência africana, mesmo que tenha também ascendência europeia, asiática ou indígena, com excepção dos miscigenados de origem latina, que constituem um grupo étnico à parte. No Caribe, a maioria da população é “negra” ou mestiça. Outros países com importantes minorias de negros são: o Brasil, a Colômbia, a Venezuela e o Equador. 
 

No Brasil, de acordo com o IBGE de 2010, verificou-se que 7.6% da população brasileira se declara “negra”, enquanto 44.2% se declaram como sendo “pardos”, entre os mulatos, caboclos e cafuzos, pessoas com ancestralidade mesclada entre africanos, europeus e indígenas, excepto os caboclos, cuja identidade não está ligada a ancestralidade africana.

Devido ao alto grau de miscigenação da população brasileira, há pouca precisão em identificar quem realmente pode ser chamado de “negro”, prevalecendo o critério da auto-declaração. Para fins políticos do Movimento Negro, entretanto, consideram-se “negros” todos aqueles que têm alguma ancestralidade africana, mesmo que sejam, também, descendentes de europeus ou de índios.

A região brasileira com o maior número proporcional de “negros” na população é a Região Nordeste, sendo o Estado da Bahia aquele com a maior proporção de “negros” na população, representando 14.4%. O Estado de Santa Catarina é o que tem a mais baixa proporção de “negros” no Brasil, que representam apenas 2.2% da população.

Observa-se que os “negros” de origem africana vivem numa condição de vida bem menos favorecida em relação à daqueles que se declaram de raça “branca”ou europeia. Isto é ocasionado especialmente pelo factor histórico da escravidão, que, ao ser abolida, não deu qualquer tipo de protecção especial aos “negros” que permaneceram na pobreza.

Um estudo publicado em 2010 pelo instituto de pesquisa Sangari mostra que a chance de um jovem negro ou pardo ser morto é 130% maior que a de um branco, devido ao facto de viverem em bairros com alto índice de criminalidade. O estudo analisa índices de 1997 a 2007. Neste último ano morria 2.6 jovens “negros” ou pardo por cada jovem “branco” com idade entre 15 e 24 anos.

Com isso, muitos argumentam que ainda há forte preconceito dentro da sociedade brasileira, o que seria uma forma a mais de dificultar a inserção do “negro” na sociedade. O último relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), “A Hora da Igualdade no Trabalho”, divulgado no dia 12 de Maio de 2018, mostra que, apesar de avanços em alguns indicadores sociais, a situação de desemprego persiste na população “negra” brasileira: a renda mensal de um trabalhador “negro” é 50% inferior a do “branco”
 

Na Ásia e Oceânia os povos de origem dravídica, nativos do sul da Índia, têm a pele escura, entretanto, possuem o fenótipo (antropometria) distinto dos “negros” africanos que, entre si, possuem já numerosos fenótipos distintos, relatados em abundante literatura etnológica dos séculos XIX e XX. O mesmo ocorre com os povos melanésios e os aborígines australianos, que embora sejam comumente chamados de “negros”, também eram classificados num grupo racial à parte conhecido como “Australoides”.

Portanto, os “negros” têm uma história de segregação, preconceito e resistência em várias partes do mundo. O “povo negro” sofreu historicamente com a escravidão, num período em que eram retirados do continente africano em navios negreiros e levados a várias colónias europeias para trabalharem em lavouras de grandes fazendas, sem direitos e sem liberdade.

No Brasil, a escravidão contemporânea colocou os “negros” africanos numa situação de grande sofrimento, trabalhando em minas e em plantações em condições totalmente insalubres. Os “negros” também eram direccionados aos trabalhos das casas grandes, onde viviam os senhores dos escravos. Os “negros”, por sua vez, vivam em sanzalas.

O comércio de escravos seguia rotas intercontinentais e era movimentado pelos europeus no século XVI. A importação de mão-de-obra acontecia principalmente na África. A escravidão só começou a ser deixada de lado com o surgimento do ideal liberal e do capitalismo que exigia um mercado consumidor e passou a considerar a escravatura pouco produtiva.
Em Portugal, a escravidão continental foi proibida em 12 de Fevereiro de 1761 e, no Brasil, o fim da escravatura aconteceu apenas em 1888, mas em 1850 o país já contava com a Lei Eusébio de Queirós que punia os traficantes de escravos. Por isso o Brasil foi o último país ocidental a abolir legalmente a escravidão. Já no mundo moderno, a Mauritânia foi o último país a acabar com a escravidão, em 1981.

Os “negros” são assim considerados pessoas de ascendência subsaariana. Por muitos anos, a cor da pele levou os povos com origem africana a viverem sob um estigma social. O histórico de preconceito tem uma ligação directa com a antiga condição dos escravos, que eram trazidos para países da América, como Brasil, EUA e alguns países do Caribe. Mesmo no continente africano, os “negros” viveram o preconceito durante o regime do Apartheid, na África do Sul. Neste período, os negros não eram considerados cidadãos com pleno direito e viviam marginalizados.

A segregação racial também esteve presente nos EUA de maneira intensa. Os resquícios de preconceito histórico ainda acompanham os “negros” e, apesar de hoje eles viverem melhor e terem mais acesso à educação e a uma vida digna, ainda existem diversas barreiras a serem superadas em busca da igualdade racial em diversos países do mundo. A principal luta é pela igualdade de oportunidades e desenvolvimento profissional.

Segundo dados de uma pesquisa realizada pelo sociólogo David Willians, do Instituto de Pesquisas Sociais da Universidade de Michigan, nos EUA, ainda hoje, para cada dólar pago a um “branco”, um negro recebe o equivalente a 40% do valor. A discriminação é igualmente forte em países da Europa, principalmente na França e na Itália. Nos EUA, a eleição de Barack Obama, o primeiro presidente “negro” do país, demonstrou avanços com relação ao preconceito dos norte-americanos “brancos”, cenário que Donald Trump pretende reverter. Os afro-americanos têm lutado pelos seus direitos e conquistado diversas vitórias.

Hoje, a “população negra” mundial está bem espalhada pelo planeta, sendo que as regiões do Caribe, Colômbia, Venezuela, Peru, Equador, Brasil e Uruguai têm uma grande e forte população negra.

Comentários

Mensagens populares deste blogue